terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.4 - O Casamento



A respeito do casamento e suas superstições, Luís da Câmara Cascudo, em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, 9ª edição, Global Editora, São Paulo, 2000, pg. 121, escreve assim:

Casamento – As superstições e os prognósticos ligados ao casamento são os mais numerosos em todo o mundo. Universais, incontáveis, pela unidade do assunto transmitem-se fielmente. As superstições relacionadas com o casamento denunciam a importância capital do sexo, o lírico poder do amor, onipotente e onipresente. Os santos casamenteiros, Santo Antônio, São João, São Gonçalo, Nossa Senhora de Lourdes e Nossa Senhora da Conceição, têm milhares de adivinhações e fórmulas para que o devoto pressinta o futuro amoroso. Trata-se aqui exclusivamente da cerimônia do matrimônio e das superstições principais decorrentes do ato, antes, durante e depois dele. E alude-se a uma quantidade ínfima, na impossibilidade de recolher e conhecer as que existem.
Eis algumas delas: o casamento deve ser em dia de semana e não no domingo. Moça que se casa no dia de Santana, 26 de julho, morre de parto. Toda a roupa e os sapatos da noiva devem ser gastos em seu uso pessoal; dando-os, dará parte de sua felicidade. O ato de vestir a noiva, provoca a boa sorte para as moças. Prender com um alfinete o vestido branco da noiva e pôr na cabeça a grinalda de flores de laranjeira são grande anúncio de matrimônio próximo. Escreve-se o nome das moças no solado do sapato dos noivos ou num papel que é posto dentro do calçado. Os noivos, especialmente a noiva, podem durante a bênção matrimonial, ir chamando mentalmente pelo nome de suas amigas, e estas irão se casar, sucessivamente. Na ida para a igreja, os noivos devem ser os últimos, e ao voltar, casados, serão os primeiros. O noivo não deve ver a noiva vestida para a cerimônia. O noivo não deve tocar objeto algum que vá ser usado pela noiva na cerimônia do casamento, exceto ouro e vidro. Não deve a noiva assistir à leitura dos banhos (proclamas) de seu casamento na igreja.
Durante a cerimônia do casamento os prognósticos são numerosos. Não podem olhar para trás na ida e na vinda da igreja. Serão felizes se chover durante o casamento ou depois da cerimônia. Abre o baile dançando com o marido ou com o seu padrinho de casamento. A noiva oferecerá as flores do seu ramo, oficialmente os cravos, às amigas e aos rapazes, mordendo os botões. Os presenteados casarão logo.
Os casamentos do sertão brasileiro guardam muitas tradições que têm sido registradas. A Corrida do Anel (ver Anel), a recepção dos recém-casados com tiros de rifles, foguetões, vivas e os cantadores louvando, o jantar infindável, com as saúdes, e o baile eram e ainda são conservados em muitos lugares. O noivo não pode ir com a noiva para o quarto nupcial. Irá a mulher e depois o homem. Só o noivo tem o direito de tirar o véu da noiva, que será doado ao oratório da casa. Quem se deitar em primeiro lugar indicará o sexo do primeiro filho. Se for o marido, homem. Se for a esposa, mulher.
O protocolo, ainda obedecido no sertão, é amanhecer de branco, marido e mulher. No primeiro domingo depois do casamento o casal oferecerá um almoço (ou os sogros oferecem) aos padrinhos do casamento e aos amigos mais íntimos. É o almoço da boda, finalizando as festas matrimoniais.


Ao iniciar esse trabalho de pesquisa sobre “Os Milagres de Santo Antônio Casamenteiro”, uma das maiores dificuldades foi conseguir encontrar uma pessoa, seja ela, mulher ou homem que confessasse ter obtido ajuda de Santo Antônio para encontrar o seu grande amor. O padre Paulo Henriques Barreto, chegou a informar que no dia 18 de dezembro de 2005, entre os inúmeros casamentos realizados por ele, naquele sábado, havia o de uma jovem que desejando encontrar um marido para se casar havia participado da Trezena de Santo Antônio. Mas como nenhuma das três se prontificou a dar maiores informações a respeito de seu casamento, este pesquisador acabou encontrando na guardiã da Capela de Santa Maria, e Ministra da Eucaristia, Adriana do Nascimento Terra de Souza, a personagem que faltava para comprovar o fato de que Santo Antônio realmente têm o poder de fazer com que as jovens e os homens consigam realizar o seu desejo de se casarem.
Com 18 anos de casamento, e tendo um casal de filhos, Adriana contou como foi a sua história de amor, e de como encontrou seu atual esposo, Antônio Carlos Carvalho de Souza,


É até uma história engraçada porque saí do serviço, trabalhava na época, combinou eu e uma amiga de irmos na festa, aí como a tradição diz que ele é o Santo “casamenteiro”, né? Aí fomos nós atrás de um namorado, não é nem de casamento, de namorado, principalmente ela que estava mais velha que eu, aí fomos. Quando chegamos lá, minha irmã estava pequena, fui eu com minha irmã e tudo, e nem encontrei com essa amiga minha lá, não. De fato, nem encontrei com ela, fiquei eu e minha irmã sozinha, mas eu não sou muito de ficar em tumulto, nem nada. Falei: “ó, vamos embora, que Santo Antônio, não está com nada nas calcinhas, deixa eu ir embora”, chego lá, nisso meu marido, nisso já estava já flertando já com meu marido. Meu marido já morava em bairro mesmo, de perto da comunidade, mas não tava nada oficializado. Ele que vinha pra festa, encontrou comigo, e falou assim: “você vai embora?”, eu falei: “vou, já estou indo embora”, ele “ah! Então não vai não, espera que eu te levo pra casa, eu só vou entrar na igreja, e vou voltar”, nisso eu esperei ele, já tinha ido na igreja, primeiro do que ele, já tava cá fora, ele falou assim: “então vai lá, que eu te espero aqui fora”, aí nisso já foi, que ele já tava, ficamos conversando e tal, e nisso conversa vai, conversa vem, ele foi pra casa, ele que foi contando a história, que ele já estava querendo me namorar e tal, eu falei assim: “é, fui duvidar do santo”. Hoje em dia já estou casada com ele mesmo, já tem 18 anos que nós somos casados, graças a Deus, tenho um casal de filhos com ele, os meus filhos foram batizados, ali, entendeu? (...)A gente é fiel, sabe que o santo não faz milagre, quem faz é Deus, mas ele que intercedeu muito a Jesus por mim, pelo meu casamento sempre peço, tenho pedido por ele, porque eu falo “ó Jesus, Santo Antônio já casei aí na sua igreja, então agora o senhor auxilie, né? Alguma coisinha que houver, né?”. Aí graças a Deus, estamos juntos pelo altar do Senhor, que fomos lá fazer os nossos votos de casamento, estamos casados até hoje, graças a Deus.


O escritor campista, José Cândido de Carvalho em seu livro “Olha para o céu, Frederico! – Romance acontecido em Campos dos Goytacazes nos dias do gramofone”, narra a vida do personagem Eduardo, que passava horas no sótão da casa de seu tio Frederico, em São Martinho, conversando com os santos em seu oratório. Na página 17, ele chega a descrever um verso de uma cantiga para Santo Antônio, ei-la:


“(...) O oratório era meu grande divertimento. Passava horas metido no sótão em conversa com os santos. Martírios de São Sebastião, todo furadinho de setas. Milagres de Santo Antônio casamenteiro. Uma sarará sabia cantigas que enterneciam o santo:
Santo Antônio, Santo Antônio,
casai-me que bem podeis.
Já tenho teias de aranha
naquilo que bem sabeis”.


E o Padre Paulo Henrique em seu depoimento define o casamento e a relação com Santo Antônio dessa forma:


“As pessoas se esquecem que casamento é você ser feliz, mas fazer a outra pessoa feliz também. As pessoas às vezes até correm atrás do santo, de um milagre, de um casamento feliz, como se isso dependesse apenas de Deus e da intercessão de Santo Antônio, mas o casamento depende 100% de Deus e 100% deles também, de cada um de nós em particular. Que as pessoas hoje não entram com esse 100%, não (?), você me dizer quando alguma coisa está assim, e se esquecem que casamento é doação total, sem reservas. (...) Não, eu acho importante até mesmo recorrer a Deus nos casos assim mais difíceis da vida, e sobretudo pedir a Santo Antônio já que ele tem também essa fama, acho que não custa você pedir a intercessão de Santo Antônio, de Nossa Senhora, qualquer outro santo, mas lembrando sempre que é Deus é quem nos faz esse milagre, essa vontade, e algo que vale a pena, acho que como diz Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. Pela grandeza que é a alma, Deus ajuda, sempre com toda certeza, e quem tem essa devoção deve permanecer fiel a Deus e deve levar adiante. Não se esqueça que quem dá é sempre Deus, o santo intercede”.

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