terça-feira, 18 de setembro de 2007

GAMA, Durvalina Ribeiro. (depoimento. 25/nov/2004).



Durvalina Ribeiro Gama, 80 anos. (25/nov/2004)
Residente à Rua Santo Antônio, Guarus.

Me conte um pouco sobre as festas de Santo Antônio.
As festas de Santo Antônio traz muita gente aqui, gente de fora mesmo, vem muita gente de fora aqui. Porque Santo Antônio, é um santo muito conhecido, muito popular, não é? A gente sabe que ele, ele é chamado Santo Antônio de Pádua e de Lisboa, não é? Porque ele nasceu em Portugal e morreu na Itália. Ele faz muitos milagres, não é? Muita coisa mesmo, muita gente, é bilhetinho, agora não, porque eu já não fico muito à frente, lá da igreja, mas quando eu ajudava muito na igreja, nos pés dele, no dia de Santo Antônio, ou qualquer dia que fosse limpar encontrava sempre muito bilhetinho, pedindo muita coisa de tudo, de tudo, porque ele é muito poderoso, Santo Antônio faz grandes coisas, mesmo pra mim tem feito grandes coisas, não foi casamento, porque isso eu não pedi, mas porque quando eu conheci meu marido eu tinha 17 anos, nós nos casamos com 21 e estamos casados há 59 anos. Dia 31 de julho do ano que vem nós vamos completar 60 anos de casado.

A Sra. Lembra alguma coisa sobre casamentos, no dia do santo ou um dia antes?
Isso eu não me lembro, não porque eu não ia assim a igreja todos os dias, de maneira que eu não sei, porque eu sempre fui assim, muito ocupada não ficava muito na igreja, não, ia quando tinha algum trabalho pra fazer lá, ou assim, alguma reunião porque quando eu era mocinha eu pertencia a Associação das Filhas de Maria, e depois de casada, também nunca deixei de ir a igreja, mas assim de haver casamento nesses dias, não me lembro, não!

Há um outro detalhe, as moças, às vezes, solteiras ou que passavam de uma determinada idade, tinham aquela crença de fazer uma promessa pra ele, ou pegar, ou pedir que conseguisse arrumar um marido, a sra. por acaso conheceu alguém que tivesse nesse desespero, que tivesse feito isso?
Não, não me lembro de ninguém, não! Pelo menos pessoas assim de minhas amizades, ninguém fez isso não.

Há quanto tempo a sra. trabalhou na igreja?
Eu deixei de trabalhar depois que eu me casei, não (...) mesmo depois que tive meus filhos, eu ainda trabalhei na igreja, que eu trabalhava, que vinha os mantimentos, no tempo de um padre que era Frei Beneditino. Vinha muito mantimento de fora. Eu nem me lembro mais da onde era, que vinha esses mantimentos. Até eu e outra senhora, uma amiga, trabalhava nós duas, pesando os mantimentos, botando nos saquinhos, pesando, porque uma vez por mês, distribuía pros pobres de Santo Antônio. Os pobres de Santo Antônio tem até hoje, né? A igreja ainda distribui mantimentos, uma vez por mês a Pia União de Santo Antônio, dá um bilhetinho a gente, pela manhã na missa pra daí a passar um domingo, no outro, que tem o dia marcado, é o terceiro domingo do mês, não me lembro bem se é o segundo ou o terceiro, a gente leva aquele mantimento, naquele bilhetinho assim, cada pessoa recebe um bilhetinho na saída da missa e, pedindo, (...) o que precisa ali, né?

Isso é em substituição ao chamado Pão de Santo Antônio?
Não. O Pão de Santo Antônio é pão mesmo. Que o padre benze na hora da missa. Tem a hora de benzer os pães, o padre benze e distribui com o pessoal, quando termina a missa. Toda terça-feira, não sei se ainda faz, toda terça-feira, porque eu, meu marido está doente, e eu já não saio assim mais sozinha, não. Ainda mais que as missas agora, mais é de noite, e eu não saio mais sozinha, ainda mais à noite. Aí eu quase não vou mais a igreja.

O que a senhora pode contar pra mim, ainda a respeito da igreja, que a senhora soubesse, algum milagre que a senhora viu, o quê que aconteceu de repente que pudesse contar assim que...
Ver eu não vi. (...) Mas aconteceu comigo, eu tinha uma filha, ela se casou e foi morar fora daqui, com poucos dias de casada, ela sofreu um desastre de carro, e quebrou a cabeça, ela trabalhava no Estado, lá em Niterói, trabalhava na Secretaria de Educação, aqui ela trabalhava de professora, mas foi para lá, foi trabalhar lá na Secretaria. E com esse desastre ela teve que parar de estudar, ela sofreu muitas operações na cabeça, nem sei porquê (?), então ela ficou muito doente, nós tivemos muito trabalho com ela, foi uma luta pra gente conseguir trazer para aqui, porque ela não queria vir embora lá do Rio, de Niterói. Foi uma luta pra ela vir embora, ela até se aposentou devido o desastre, ela estava no último ano da faculdade, ela teve que parar a faculdade porque não teve mais condição para estudar. Ela bem que tentou, mas não teve meios, não. Mas, ela então depois veio morar aqui conosco, e ela costumava muito sair e ela quando saía, nós até sofremos muito com ela, muito mesmo. Eu não me envergonho de falar isso porque, eu não estou inventando, foi coisa passada e a vizinhança toda aqui sabe. Ela passou a beber, se embriagar, ela saía, levava dois, três dias, não sabia onde andava, as vezes eu passava a noite sem dormir, esperando por ela, quantas vezes, pela madrugada, alguém batia palmas eu chamava logo meu marido e a gente vinha ver, era alguém dando notícia dela, aí a gente ia pra rua pra poder trazê-la pra casa. Mas levamos assim, 21 anos, nesse sofrimento, ela tinha tempo que melhorava, tinha tempo que piorava, mas agora eu vou contar o milagre de Santo Antônio.
Foi um sábado à tarde, ela pela manhã saiu pra fazer uma comprinha pra mim, e não voltava, nunca mais que voltava. Daí, até a minha irmã estava aqui em casa, minha irmão mais velha, que morava em Niterói, ela estava aqui, eu preciso (...) Dalila, eu vou sair pra ir ver a minha filha que se chamava Ana Maria. Eu saí com ela, eu saí com minha irmã, procurando por ela, procurando. Antes as lojas já estavam fechando, e ela, eu vendo que ela não... tão fechando, estavam fechadas, porque foi um dia de sábado, e comércio aqui dia de sábado fecha meio-dia, uma hora. Aí ela nunca mais que vinha, eu resolvi para procurá-la, né. Então, quando eu vinha por uma rua, pela rua 21, eu me lembro muito bem, que eu olhei, eu vi que ela vinha nessa mesma rua, mas bem na minha frente, aí eu corri, pra ver se alcançava, minha irmã ainda disse assim: “você parece uma mulher maluca, correndo pela rua, aqui na cidade”, eu disse: “ah, minha filha, por causa de uma filha a gente faz tudo”. Mas quando eu olhei ela já estava ainda muito distante ela dobrou da Rua 21, dobrou pra Rua Barão de Cotegipe, eu disse: “ah! É agora, eu vou perdê-la!”, aí eu gritei: “Santo Antônio! Santo Antônio, me ajuda Santo Antônio!”, falei mesmo: “me ajuda Santo Antônio!”. O senhor sabe, quando eu cheguei na esquina, ela dobrou, foi Santo Antônio que fez ela parar, aí eu falei com ela, ela veio, nós viemos embora para casa. Então eu disse:”isso foi um dos milagres que Santo Antônio me fez”.
Outra vez, as crianças quando eram pequenas, apanharam a chave da bicicleta do meu marido, aí a chave sumiu eu disse: “gente, o quê que eu vou fazer, quando ele chegar com essa chave da bicicleta!”, aí eu fiquei: “Meu Jesus, o quê que eu faço?”, aí eu disse: “Santo Antônio, me faça essa chave (...)”. O senhor sabe, eu havia passado uma roupinha das crianças, e posto no armário, quando eu abri a porta do armário, a chave estava em cima da roupinha que eu havia passado. Eu disse: “Não se entende isso, não”, eu disse: “só foi Santo Antônio, que fez isso”.
E a pouquinho, pouquinho tempo, aqui em casa até dão risada, porque (?), porque eu sou muito invocada com Santo Antônio, mas não sou não, porque ele tem me mostrado muita coisa. A poucos dias, eu tenho uma tesourinha de unha, e a tesourinha sumiu, pois eu procurei em todo lugar, no lugar até que eu costumo guardar, nada. Eu disse: “ah, o jeito vai ser...”, isso levou uns quinze dias, “o jeito vai ser eu comprar outra tesourinha”. Meu marido dizia: “trata de comprar outra tesoura porque não vai achar, não!”, pois o senhor sabe, na gaveta que eu costumo guardar, que eu já havia procurado, e ele me disse também, meu marido: “eu também já procurei nessa gaveta”. Quando eu abro a gaveta, a tesourinha estava assim (mostrando), quase tudo separado, assim na gaveta e a tesourinha ali no meio, como se alguém tivesse colocado ali. Eu disse: “só é obra de Santo Antônio, só é obra dele”. Porque na gaveta eu mexi, meu marido mexeu, eu não mexi uma vez só, não, mexi gavetinha muitas vezes, isso (...) na gaveta, a tesourinha, e quando eu trabalho de agulha é com ela que eu corto a linha, faço essas coisas assim, corto minhas unhas. Pois a tesourinha que eu abri a gaveta, estava dentro da gaveta. Isso é coisa que aconteceu comigo. Eu posso falar que foi milagre dele porque foi mesmo, foi mesmo. E quando eu estou em muito desespero, e todos nós temos, né? Ah! É a quem eu recorro, é a ele e a Nossa Senhora. (...).

Nenhum comentário: