terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.13 - A Construção da Igreja de Santo Antônio em Guarus


Antes de iniciarmos o relato sobre a história da igreja de Santo Antônio é interessante salientarmos aqui alguns fatos. De acordo com Luís da Câmara Cascudo, em seu livro “Dicionário do Folclore Brasileiro”, p. 17, 9ª edição, S. Paulo, 2000:

“Antônio (santo) – Um dos santos de devoção mais popular no Brasil. Suas festas quase desapareceram, mas o prestígio se mantém nos assuntos de encontrar casamento e encontrar as coisas perdidas. Trouxeram os portugueses o culto Antonino, que se divulgou e fixou através dos tempos. Incontáveis as orações que lhe são dedicadas, especialmente citadas as Trezenas e a Recitação do Responso, infalível na obtenção de graças. As Trezenas são treze dias oferecidos ao santo, com orações e leituras de exemplos de sua vida. Uma tradição, conservada oralmente há mais de um século, (...) Apesar das mudanças e bajulações corográficas, o Brasil possui setenta localidades com o nome de Santo Antônio (Guia Postal Telegráfico do Brasil, 1940)”.

Em outro livro, “Superstição no Brasil”, Editora Global, São Paulo, 2001, p. 440, o mesmo autor relata que:

“Durante meses em 1947 investiguei a popularidade de alguns santos na fidelidade brasileira. (...) Não enfrentei as 3.110 paróquias de 1953, quanto mais as do presente. A notícia municipalista é de 1965, IBGE”.

Nessa pesquisa, Luís da Câmara Cascudo, relata que a preferência é de santos sobre santas. E “em 1.391 paróquias, 909 santos paraninfam para 482 padroeiras”. Em seguida, o mesmo autor mostra quais são os santos preferidos dos brasileiros. Em segundo lugar na preferência, vem, “Santo Antônio, em 228 municípios e 62 distritos”.
Em seu depoimento, a historiadora do Museu de Campos (localizado na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, e mais conhecido como o Palácio da Cultura), Silvia Paes, relata de que forma surgiu a construção da atual Igreja de Santo Antônio, em Guarus:

“A igreja de Santo Antônio de Guarus tem muito pouca coisa escrita sobre ela, mas a gente consegue pescar uns pedacinhos de (...) pra juntar o quebra-cabeça, e segundo consta a Igreja de Santo Antônio ela resulta da demolição. Não é bem demolição, da destruição com o tempo, não foi uma destruição proposital da última capelinha que havia ainda na Aldeia, dos índios goitacá em Guarus, próximo no local onde hoje é aquele bairro da Aldeia. Era ali uma capelinha, e essa capela caiu numa chuva. Era um capela muito simples e os moradores, o que restou da antiga Aldeia, mais os moradores próximos pediram à Câmara Municipal que fosse construído uma nova igreja. E essa igreja demorou muito a sair. Os barões que tinham terras em Guarus entre eles, o Barão de Muriaé por exemplo, doou a porta da igreja, outros doaram tijolos, telhas, emprestaram escravos para construir a igreja, e a igrejinha de Santo Antônio de Guarus então foi erguida dessa forma. E a antiga capela que abrigou os santos e o Santíssimo durante a construção da igreja, ela ainda existe, na (Rua) Nazário Pereira Gomes, é uma capela muito pequena, muito singela, mas que tem um significado muito grande para os moradores daquela região. Ela inclusive está sendo não restaurada, porque ela também não tem assim um estilo arquitetônico relevante, mas ela está sendo recuperada goteira, telha, essas coisas atualmente, pela comunidade”.

De acordo com o histórico da igreja, entregue a este pesquisador pelo Centro Paroquial Santo Antônio,

“(...) Tudo começou em 1659, quando dois missionários franceses conseguiram com que alguns índios aceitassem se assentar numa aldeia de Guarulhos. Com o tempo, os selvícolas se rebelaram, até que em 1682 a aldeia foi entregue pela Coroa à Ordem de Santo Antônio, do Rio de Janeiro. Mas quando os missionários chegaram para substituir os capuchinhos franceses, já encontraram a aldeia catequizada e erguida um capela de palha.
Decidiu o Padre Ângelo Pessanha substituir a tosca capela por uma outra, construída com pedras e telhas de barro, passando, ainda a cultivar as terras em volta, nas quais foram plantadas milho, feijão e mandioca, além da criação de galinhas, gado cavalar e vacum.
Com o tempo, dos 500 índios aldeados em 1682, em 1706 só restavam 37 casais. Estes receberam as terras junto à aldeia, mas elas já estavam incorporadas à Fazenda Moriboca, do Colégio Jesuíta do Espírito Santo, que, por sua vez, já haviam aforado a sesmaria a diversos lavradores. Este fato revoltou os índios, seguindo-se violentas lutas que se prolongaram por diversos anos. Muitos índios que haviam retornado a aldeia tiveram que fugir novamente para o sertão. Alguns poucos, porém, já catequisados, continuaram submissos aos missionários. A capela do aldeiamento indígena se situava às margens do Rio Muriaé. Quando da deterioração da capela, devido às lutas entre fazendeiros e índios, alguns proprietários rurais decidiram pela construção de uma nova igreja, desta vez, à margem do rio Paraíba. Corria o ano de 1852, quando dessa decisão.
Em 1855 a primeira pedra da nova construção foi conduzida por uma canoa enfeitada até o terreno escolhido para a Igreja, que fora adquirido pelo Barão de Muriaé. A área media 100 x 50 braças. João Peixoto de Siqueira fez a doação de todas as portas do templo e formou-se uma comissão para tratar das obras. Esta comissão estava o Barão de Muriaé, Barão de Itabapoana e José Francisco da Cruz Peixoto. Embora iniciada com grande ânimo, as obras foram logo depois interrompidas e só em abril de 1857 retomadas, ficando os alicerces prontos no mesmo mês e, em junho, levantadas as paredes. A planta inicial apresentava um zimbório que não chegou a ser construído. Na sessão da Câmara Municipal de 17 de julho de 1865, os vereadores Thomaz Coelho e Joaquim Faria, propuseram entregar ao Pároco de Guarulhos a obra da Matriz, assim, como o material ali existente, tendo o sacerdote se compromissado a prosseguir com a edificação. Assim a obra foi entregue ao Vigário Joaquim Pacheco, que desenvolveu intensa campanha para a conclusão do templo, que é considerado um dos mais belos da cidade, com suas simétricas arcadas e colunas quadranguladas. O Vigário Joaquim Pacheco esteve à frente da Paróquia de Guarulhos durante 40 anos, sendo muito estimado por todos”.

E Júlio Feydit, em seu livro “Subsídios para a história dos Campos dos Goytacazes – Desde os tempos coloniais até a Proclamação da República”, pg. 315, relata com alguns pormenores como foi construída a igreja:

“A 2 de setembro de 1796, o ouvidor José Pinto Ribeiro e o juiz comissário da Aldeia dos Guarulhos com o escrivão, curador dos índios, piloto e seu ajudante demarcaram o reduto da igreja perante o padre João Luiz Villoso, que era vigário de Guarulhos. A matriz de Guarulhos já muito deteriorada, desabou, mas foi reformada à custa do Barão de Muriaé e ficou pronta em 3 de fevereiro de 1852. Três anos depois, em 12 de fevereiro de 1855 pelas 5 horas da tarde, seguiu pelo rio Paraíba em uma canoa toda embandeirada, a pedra fundamental da nova matriz de Guarulhos. O vigário, que era o cônego J. J. da Silva P. Baptista, auxiliado pelos cônegos Britto e Marianno e pelos padres Pereira, Guedes e Antunes, acompanhou a pedra até a cruz; aí salmodiaram e espargiram água benta. Na pedra fundamental foi colocada uma caixinha de metal com a inscrição do ato, e algumas moedas com a efígie de D. Pedro II. A nova igreja de Guarulhos foi edificada em um terreno de 50 braças de testada e 100 de fundos, terreno que foi comprado pelo finado Barão de Muriaé a seu genro José Ribeiro de Castro, e generosamente cedido para essa obra pia. Por morte do Barão de Muriaé, que teve lugar a 12 de junho de 1854, a baronesa e seus filhos prometeram concorrer cada um anualmente, com a quantia de 500$000 ou 4 contos anuais, em auxílio da obra da Matriz, durante 4 anos. Em outubro de 1855, o vice-presidente da província do Rio de Janeiro, por conta do cofre provincial, concedeu para as mesmas obras a quantia de 1:500$000.
Em 25 de outubro de 1860, tomou posse de vigário colado da freguesia, na matriz de Santo Antônio dos Guarulhos o padre Joaquim José Pacheco Guimarães. Em 6 de setembro de 1874 benzeu-se a igreja, e no dia seguinte trasladaram para ela as imagens que estavam na velha matriz”.

Ainda em seu depoimento, Silvia Paes conta o porquê da igreja ter sido construída por escravos,

“Olha só, o momento era de escravidão, é claro que não só apenas negros, mas também porque uma forma dos proprietários, dos grandes proprietários de terra escrava colaborarem com as coisas públicas era cedendo a mão de obra de seus escravos, mas entre eles sem dúvida que deveria ter havido brancos pobres, que tinham também mestiços, dos índios goitacás, descendentes dos índios goitacá, ainda na construção da igreja, mas nós não temos, eu não posso afirmar isso a você, quanto era de cada um porque não existe documento sobre isso”.

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