terça-feira, 18 de setembro de 2007

SOUZA, Maria Jocélia de. (depoimento. 12/fev/2005).


Maria Jocélia de Souza (Maria Rezadeira) - 70 anos – 12/fev/2005
Rezadeira – Mãe de Santo – Mineiros – Campos dos Goytacazes -

Dona Maria, a senhora é rezadeira, já há quanto tempo?
Ah! Meu filho, eu sou assim nascida e bedença, mas eu vivia assim pelos meus pais e em casa assim de rezar, meus pais, não. Meu pai nunca acreditou em negócio de espiritismo. A minha mãe, ia na casa assim das pessoas, assim pessoa que rezava. Pessoas espíritas, quando eu chegava que tinha idade de uns 8 anos pra 10 anos. Quando eu chegava eu, as proteção eu via assim nos pés. “Eh, menina aconteceu isso, isso e com ocê?”, eu dizia “não”, “fala negrinha!”, aí eu dizia “não, não (...) não aconteceu”. “Vou quebrar perna sua, se não falar a verdade”. Eu falava: “não posso falar a verdade, porque isso não houve, isso não posso, porque não houve”. Aí eu fiquei com aquele complequi (complexo), de espiritismo. Aí eu ia assim nas casas, assim de espiritismo, ia na casa de espiritismo pra rezar, aí eu chegava na casa de espiritismo aí a dona “ah, minha filha, que você precisa desenvolver, coisa e tal”, eu falei assim, eu cá na minha parada, aí eu dizia assim: “eu, Deus a guie! Receber proteção pra pegar mentira pros outros?”, aí eu disse: “aí, isso nunca vai acontecer, de exercer espiritismo, de exercer pra poder”, eu mas pra escolher, tem que ser o certo, não o errado, né? Eu tinha aqui na minha memória, aí eu disse assim: “meu Deus, o que que acontece”, mas depois foi passando o tempo, eu fui crescendo, casei e muitos programas, e triste mesmo, dormia mal a noite, eu falei assim “meu Deus do Céu! O jeito que eu tenho é mesmo seguir”, eu disse: “o jeito que eu tenho mesmo é seguir isso que eu disse, tenho que seguir”. Aí eu disse assim: “Meu Deus! Se é o meu caso se eu tenho que seguir isso, então eu vou seguir até o dia da minha morte, até o dia da minha partida, que nós, que todo mundo aqui, ninguém, todo mundo aqui é uma passagem. Aí eu disse assim: “então até o dia que Deus fez pra minha partida, eu vou seguir isso, esse espiritismo”. E estou seguindo, comecei com a base de 37 anos e já vou fazer 70, e tou nessa vidinha, pra chegar um, com (?), uma perna é um braço, é não sei o quê. Graças a Jesus, graças a Deus que Ele tá poderoso, que é maior, entra no meu terreiro e Deus ajuda, que quando sai, sai melhor. Aí então isso é uma graça de Deus, que eu segui.

A respeito do terreiro, a senhora construiu desde essa época?
Não, eu trabalhava no terreiro da minha chefe, que é morta. Eu, quer dizer, que eu comecei do terreiro mesmo, agora duns trinta, vinte e oito anos que eu comecei mesmo por minha conta.

Agora, uma coisa, a senhora faz essas rezas todas, a senhora aprendeu com alguém, alguém te ensinou?
Não, aprendi com ninguém, aprendi comigo mesmo. Com a minha natureza, fui na casa da chefe só pra ela, só dar uma, assim uma coisa na minha vida né, porque se eu vivia sofrendo, que dizia que meu problema, sofrimento todo era esse. Aí eu fui só pra ela, aí ela depois disse: “você pode seguir sua vida”.

A senhora então trabalhou pra uma pessoa, tinha uma chefe, isso?
Era a chefe do terreiro que já partiu. Ela partiu com noventa e nove anos. Ia fazer 100 anos. Faz 3 meses que ela entrou nessa, partiu.

A 3 meses atrás?
A 3 meses e pouco ela partiu.

A senhora lembra o nome dela?
Marinete

Da onde?
Do IPS, teve muitas pessoas, mãe dela, mas a mesma que ela contava e me deu liberdade, fui eu.

Bom, agora a respeito de uma coisa, o meu trabalho é sobre Santo Antônio, e logicamente tem pessoas que aproveitam, procuram de uma maneira e as vezes não encontram, acabam pedindo uma pessoa, uma ajudinha pra arrumar um marido, ou uma esposa. Aqui já aconteceu de vir muitas pessoas, assim?
Demais, muita gente.

A senhora conhece alguma simpatia que pudesse falar pra gente?
A gente sabe, alguma, quer dizer, pra (?) as proteção ensina alguma, né? Mas eu, ensino alguma proteção, alguma coisa, acender as segunda-feira acender uma vela assim, do lado de fora no cantinho, pras Santas Almas benditas, e fazer o pedido que quer, as Santas Almas Benditas, e depois diante disso, a pessoa fazer oração pra Santo Antônio poder conseguir, Santo Antônio Pequenininho, pra dar o que a pessoa quer, iluminar os caminhos e ajudar a pessoa.

A senhora tem alguma imagem de Santo Antônio?
Tem uma porção de santos, tem Santo Antônio Pequenininho, tem Santo Antônio, tem uma porção.

Agora, dessas pessoas que já vieram aqui pra pedir essa ajuda pra arrumar um marido, a senhora sabe de alguma que já conseguiu?
A tem uma porção, tem milhões.

Tem alguma vizinha?
Vizinha, não. Vizinha aqui, não, mas tem uma porção de gente que já conseguiu. Que vem gente de toda parte de longe. A tem na casa em Mineiros, tem uma Dona Maria, Rezadeira, que reza muito bem, aí o povo vem chegando, vem, e consegue encontrar o que quer.

Agora, a senhora tem filhos?
Muito. Tenho dois pastor.

Todos os dois são pastores? Então quer dizer nenhum deles, seguiu...
Não, tinha um que trabalhava comigo, esse é um que é pastor, trabalhava comigo até depois dos colégios, que é de outra religião, aí deu na cabeça e seguiu, seguiu e deu certo, segue cada um a sua vida. Tem um que mora em Guarus, também, que também exerce na Igreja Universal.

Dona Maria, no Brasil, há duas vertentes, uma do candomblé e outra da umbanda. A senhora segue que linha?
A minha é umbanda, meu filho. Eu não gosto de candomblé, não. Não gosto de candomblé, porque candomblé é só pra maldar, né? Porque você não sabe, só trabalha com matança de bicho, é carneiro, é bode preto, é tudo né? E essa linha, não que é muito maldosa, não sigo essa linha. E eu gosto de trabalhar na minha linha de umbanda, que a linha de umbanda é uma linha bonita, é descarregar, limpar as pessoas, de tirar tudo quanto, né... A gente vai limpando as pessoas, pras pessoas caminhar, que a gente precisa, gosto de fazer o bem, quer dizer que a minha linha é umbanda, entendeu?

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