terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.14 - A cultura afro e sua relação com Santo Antônio


Até aqui, a pesquisa seguiu uma linha com a visão católica, mas com a aculturação dos negros na África relatados acima, a sua chegada ao Brasil como escravo, e a tentativa de manter e resgatar na memória traços de sua própria cultura, o homem negro passa a conviver com as duas culturas, a sua e a dos portugueses, criando formas e expressões para mostrar que também estava inserido no contexto cultural brasileiro e católico.
Vale destacar aqui também o artigo “O Folclore no Brasil”, escrito por Renato Almeida e publicado na Revista Brasileira de Folclore, ano VIII, n. 21, maio/agosto, 1968, páginas 105-106, 108-111, 115, e 158-159, cujos trechos demonstram com clareza de detalhes a cultura negra e a sua entrada no cenário brasileiro.

“(...) O negro se integrou no folclore brasileiro pelos folk-ways que carreou e pela adaptação com outros povos formadores da nacionalidade. Não foi uma contribuição tranqüila nem ordenada, como em certos aspectos a portuguesa, mas intensa e confusa, na qual, dada sobretudo a sua condição de escravo, teria de cingir-se às variáveis condições do meio, onde era o elemento servil. Roger Bastide concluiu que (...) a mentalidade africana atuou igualmente por determinações religiosas, artísticas, psicológicas e ao acaso de circunstâncias indefiníveis. Assim, o folclore não era artificial, artificiais seriam as conjunturas da sociedade nascente, decidindo uma cultura popular adequada às possibilidades do meio, porém expressando o modo de pensar, sentir e agir já não só dos africanos, mas de quantos se encontravam na terra nova e miscigenavam sangues e aculturavam usos e costumes. As contribuições africanas foram numerosas, variadas e diferentes. Os negros provinham de diversas áreas culturais, da área oriental do gado, área do Congo, sub-área da Costa da Guiné e do Sudão oriental e ocidental, para adotar o critério de Herskovits. Traziam culturas próprias que aqui entravam em contacto entre si, pois seus portadores eram canalizados heterogeneamente, embora, por contigências naturais, muitos agrupamentos de uma mesma área tivessem ocorrido, como de sudaneses na Bahia e de bantos em Pernambuco e no Rio.
(...) Em todas as manifestações do nosso folclore, quer na cultura espiritual quer na material, a presença do negro é constante e, com a sua facilidade extrema de adaptar, apropriou-se de um sem número de fatos e lhes deu o seu estilo, a tal ponto que os tornou coisa sua. Essa reinterpretação não foi apenas decorrência da conjuntura social, mas da maneira com que viam e sentiam as coisas, função portanto da sua mentalidade. E a prova está no fato de serem inumeráveis as demonstrações folclóricas dos negros transpostas do folclore dos brancos e sem conta os empréstimos tomados aos índios.
(...) É preciso não confundir o que é originalmente africano com o que foi trazido pelos africanos. Que será originalmente português do imenso patrimônio que nos deram os lusitanos? O folclore é universal, com ser regional. Portanto, é necessário um grande cuidado nesse sentido. Muita coisa do que nos trouxeram os africanos não nasceu na África, mas foi transmitida por eles. Como muito do que nos veio com os portugueses não lhes pertencia, eles foram apenas portadores. Jorge Dias disse com acerto que Portugal não é a fonte mas o grande caminho do folclore brasileiro. (...) Esse ciclo do Pai João, que contém por igual muita sátira contra os pretos, muitas delas vindas dos mulatos – a eterna luta de filhos contra pais – incorporou elementos de diversas procedências, pois é um ciclo brasileiro e não africano, e necessitaria de uma coleta e um largo estudo, para esclarecer o folclore negro no Brasil, que não se pode limitar à investigação complicada de origens, nem às influências, mas deve considerar sua vivência nacional. É voz corrente que foi pequena a contribuição africana nos nossos mitos, reduzindo-se ao Quibungo e à influência em mitos ameríndios e europeus. Creio que o assunto merece ser revisto, porque muitas figuras dos cultos africanos são mitos e como tal funcionam. Outros se mesclaram, uns guardando a forma africana, como Iemanjá, que se incorporou à sereia européia e às mães d´água indígenas, outros foram reinterpretados, por função ou forma, como iyabá Ossãe com a Caipora, pelo destino protetor de árvores, e o Zumbi, que figura também como um saci negro e outras vezes se aproxima do Caipora, pelas suas artes.
(...) Mas é reconhecível a influência negra nos talismãs, nos fetiches, nas coisas feitas, incorporadas aos seus cultos, os ebós e os despachos, os símbolos e as mandingas, em suma as mil formas de propiciar o bem, produzir o mal sobre inimigos, desafetos e rivais e defender-se dele, quando nos vise. A magia negra, quer na forma imitativa quer na simpática, é um capítulo muito versado para dispensar maiores considerações. Sua penetração foi muito intensa. A figa, por exemplo, quer o gesto, quer o talismã de sentido fálico, não é negra de origem, mas se tornou este sobretudo um elemento infrangivelmente ligado aos costumes dos negros do Brasil.
(...) se somente depois de 300 anos de incessante e desmedido desembarque em portos e praias, de mais de dois milhões de escravos.
Indiscutivelmente os redutos mais fortes da música negra são os candomblés, as macumbas e ainda alguns maracatus pernambucanos e certos batuques, sambas de roda e jongos de fundo de sertão.
(...) Não podiam por isso, criar nem pintura nem escultura populares, foram hábeis artesãos, em particular abridores marceneiros, ourives, santeiros, além do que deixaram em formas folclóricas de escultura, ex-votos, implementos de folguedos, instrumentos musicais, etc.
(...) Não possuindo lugar próprio para o culto – a cargo de pessoa preparada para tal fim, denominada quimbanda ou quimbandeiro, ou simplesmente feiticeiro, em geral um negro velho que trazia ao pescoço amuletos, figas de guiné, patuás e rosário – nem permissão para faze-lo, os escravos se internavam nos matos e capoeiras cumprindo ocultamente sua liturgia, que se ligava aos ritos funerários, à medicina mágica e à feitiçaria. De tudo isso resultaram dois tipos muito encontradiços: o curandeiro e o feiticeiro. Muitas vezes foram os feiticeiros surpreendidos naquela misturança de beberagens, pólvora, figas, bonecas, ossos, cabelos, enxofre, terra, fogo, e então declaravam ser inócua aquela magia, ou, quando muito benéfica, consistindo em mezinhas para curar os companheiros ou permitir ao homem poderes sobre animais. Grande nossa coleta de casos em que, por meio desses poderes, os negros adquiriam o dom da ubiqüidade, dominavam cobras e bichos peçonhentos e também seres humanos, matavam passarinhos com um simples olhar, as cobras deslizavam humilhadas sobre o chão, nenhuma fera lhes seguia os passos. As ervas serviam para defumação (como atualmente), para enfraquecer ou matar inimigos ou torna-los loucos, o que seria possível pelo terror que infundiam as feitiçarias e propriedades tóxicas das plantas. Era a magia de caldeira fumegante, de vapores com cheiros que estonteavam. Era a arte trazida da África, mistura de folguedos, magia, adivinhação do grupo tribal para descobrir as causas das doenças, encontrar objetos e animais perdidos, conseguir boas caçadas, lavouras rendosas, dominar os elementos e outras muitas coisas. Capatazes, amos, sinhazinhas foram por esses meios fatalmente alcançados.
(...) nenhuma síntese poderia ser mais perfeita que o depoimento com que me honrou o emérito historiador Prof. Agostinho Ramos, nascido em Bananal (SP), no século passado e residente em Cachoeira Paulista (SP, que passo a transcrever:
“Antigamente, quase não se ouvia falar em macumba. Havia referências à bruxaria, porém, o forte entre os escravos, era a feitiçaria, que também se denominava “coisa feita” a quiamba. Pelo rincão, ninguém conhecia Exu, Ogum, Orixás, Iemanjá, Babalaôs e quejandas. Lá valiam: o coisa-ruim, o pe de pato, o tinhoso, o pererê, o caapora, o capeta. O caipira que entrasse em roda de negro era chamado mucurungo (mocorongo).
A feitiçaria, que hoje tem o nome de “despacho” e entre os negros chamava-se “trabaio” (trabalho) era praticada de preferência na 6ª feira da Paixão e no dia de São João, `noite, debaixo de uma figueira. O material usado por lá: a cachaça e a pólvora, denominadas (tanto quanto me ajuda a memória) fumbanda e pemba, e, a seguir, pele de sapo, osso de anjinho, unha de gavião, guiné, fumo pixuá e macaio, e mais: pica-pau chanchã e cobra cora (coral). Por vezes, em homenagem a sinhazinha, a cobra recebia o nome de Dondoca.
Usava-se também um rosário de coquinho seco, de jerivá, para durante o ritual curar o crioulinho atuado pelo pererê. Um tripé, lenha, fogo, e, num caco (pedaço de panela) colocavam-se os “aperparo”. A cachaça era ingerida aos golpes (goles) seguidos. O pretinho salta sobre a fogueira sem parar. O preto velho comanda o ritual. Todos se movimentam em forma de jongo: “Andorinha cantô no cangerá...” Há trejeitos, gestos de súplica. Ao redor do fogo, um filete de pólvora. Ateia-se a chama – uma pequena esplosão – e o “trabaio” está feito (não se sabe em que sentido). Certo é que, após alguns dias, numa encruzilhada, ou no terreiro da pessoa visada, aparecia galinha preta morta, e, às vezes, depenada”.

Em seu livro “Muata Calombo consciência e destruição – O olhar da imprensa sobre a cultura popular da região açucareira de Campos dos Goytacazes”, o professor e Mestre da Faculdade de Filosofia de Campos, Orávio de Campos Soares, conta entre as páginas 64 e 69, um pouco dessa cultura que hoje já faz parte do folclore regional e nacional.

(...) Quando se comenta as transformações sócioculturais ocorridas em decorrência do esvaziamento da zona rural, citando, de per si, cada elemento que configura o seu conjunto de interesses, chega-se ao pensamento de LÉVY, (Pierre), quando ele afirma que:
“uma cultura manifesta seu sistema de correspondência original ao articular uma infinidade de sistemas de correspondências especializadas: a língua, provavelmente o mais importante deles, mas também a religião, as artes, as instituições, as regras de parentesco, a troca econômica, os mitos, as ciências, as técnicas, e, assim, por diante. Todos esses sistemas estão em relação de similitude, de oposição e de complementaridade no seio de um vasto metasistema de correspondência, tão convencional quanto os sistemas especializados que ele articula”.
Os mais velhos, nascidos e criados nas roças, instalados nas periferias das cidades, ainda resistentes às inovações da vida moderna, continuam rezando, embora raramente, com três galhos de alfazema ou de arruda, os quebrantos produzidos pelos maus olhados; ou costurando os nervos torcidos com suas agulhas virgens traçando linha branca no naco de algodão. Também (ainda) curam espinhela caída e eliminam as doenças da espinha dos recém-nascidos, bem como as impinges, erisipelas, verrugas e outros males humanos. Muitos ainda recorrem aos chás de pico-preto para hepatites; arnica para pancadas doloridas, losna e boldo para o fígado, nogueira para purificação do sangue, cidreira para males do estômago e como calmante, garrafadas para vencer a impotência, e infusão de quebra-pedra destinada a curar doenças renais...
Os meios fitoterápicos talvez sejam, via reconhecimento da ciência, a forma preservadora recolhida dos antigos. Provavelmente será a única a se integrar à alopatia quimioterápica dos remédios miraculosos. Contra os quebrantos e maus olhados ficará a reza emoldurada no passado:
“(...) Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (amém). Deus me abençoe com a Sua Santa Cruz (amém). Deus me abençoe com seu sangue (Amém). Deus me dê a sua proteção (Amém). Leve consigo o que consigo trouxeste. Deus me defenda do mau olhado, da má influência, de todo mal que me quiseres. És o ferro, eu sou o aço. És a treva, eu sou a luz. És o diabo, eu sou a filha de Deus. Deus me guie, amém
12”.
Ou, ainda, a certeza de que mesmo com os avanços tecnológicos do terceiro milênio há a comprovação dos efeitos positivos das orações:
“(...) Senhor Jesus Cristo ajuda-me onde ponho a mão: Cristo vivit reguat et imperat per omnia secularum, amém. Pelo poder de Nosso Senhor Jesus Cristo este quebranto vai sair pela cabeça, pelos lados, pelas costas, por cima, por baixo, por trás, pela frente. Assim como digo com fé em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim se fará. Este quebranto vai sair pela frente, por trás, por cima, por baixo, amém (...)”
13.
Todas as tradições culturais, na medida em que a distância do tempo aumenta vão se afastando e se perdendo nos desvãos da história. Os grupos afro-umbandistas – atuando nas chamadas tendas espíritas – que eram muitos nos anos 60, estão, lentamente, desaparecendo das noites das planícies. O mesmo acontece com relação ao africaníssimo candomblé. Com o deslocamento da população negra das zonas açucareiras para as franjas da cidade, o afro-umbandismo perdeu muito de seu significado. A umbanda, como uma manifestação mais brasileira, surgida em Niterói em 1946, mantém, com sacrifícios, a representação dos orixás nas áreas urbanas, desempenhando o seu papel sócio-religioso. Mas o quadro hoje é um pouco diferente, principalmente depois do advento da televisão.
O presidente da Federação Espírita de Umbanda de Campos, José Geraldo de Carvalho Alves, concorda que no início do século XX o número de aficionados das religiões africanas era muito maior. Se si levar em consideração que, por ocasião da abolição da escravatura o país tinha 1.346.648 negros e que na Província do Rio o número chegava a 268.831, calcula-se que o município de Campos dos Goytacazes, o maior núcleo do escravismo nacional, tivesse cerca de 50 mil espalhados por sítios, fazendas e nas senzalas dos solares da cidade
14.
Acontece que no capítulo da religião, (SOUZA, 1935: 197-221), a estatística concentrou os católicos, em 1889, com 103 mil aficionados e 3 mil católicos, incluindo entre eles presbiterianos, luteranos, batistas, confucionismo, israelismo (ou judaísmo), maometano, maçonaria, adventista, espiritismo kardecista e ateísmo” (sic). Quanto à religião dos ex-escravos constou como fetichismo com zero na estatística, tudo levando a crer que foram incluídos como católicos, por não poderem expressar, apesar da abolição, a forma de pensar suas relações com os deuses e orixás. O autor declara, enfaticamente, alargando, ainda mais, a falsidade dos números dos ex-escravos:
“(...) Zona grandemente agrícola, Campos, conforme Minas Gerais, foi o lugar que mais recebeu o elemento africano escravizado. Com o vir dos negros da Angola e Benguela, vieram também com eles as práticas da magia negra, dos filtros, dos encantamentos. Por isso os casos de feitiçaria generalizaram-se, não só nas senzalas mas também na cidade, de sorte que, senhores, feitores, sinhás-moças e parceiros que quisessem ficar imunes dos malefícios da arte mágica da gente de cham
15 (sic) tinham de, pela mesma arte, mandar fechar o corpo (...).”
Em sua narrativa, na qual se posiciona, criticamente, mostrando ser um católico convicto e praticante, afirma que “os casos de encantamento ou enfeitiçamento abundaram nas épocas passadas”, citando os candomblés
16 com que tomados por foros de ciência, rótulos de caridade, possivelmente em razão de ter sido incorporado por pessoas das classes mais economicamente postadas na sociedade. E coloca sua opinião:
“(...) Se a maior parte dos professantes da religião de cham não passam de embusteiros e espertalhões, que sabem com segurança que a humanidade, em boa parte, é de uma ingenuidade e crendice ilimitadas, - alguns profissionais das ervas e evocações sibilinas foram terríveis propagadores do mal e do bem (...)”.
Depois narra, com precisão, e até certo temor, um fato acontecido numa fazenda das margens do rio Muriaé, onde o médico José Herédia de Sá foi visitar um doente que, há dias, estava sofrendo terrivelmente:
“(...) Era uma mucama de estimação da fazendeira, que sofria de horríveis dores na cabeça, e isso, desde que, uma sua invejosa parceira, ofereceu-lhe para penteá-la. O médico examinou a doente, aplicou toda sorte de medicamentos, mas tudo em vão... a cefaléia da pretinha a nada cedia. Depois de determinar um diagnóstico, o clínico disse à fazendeira que a medicina legal não resolveria o mal, portanto chamasse para tratar da doente um médico d’Angola... Buscaram então a um cabinda
17 daquelas bandas; e o velho africano, em chegando, fez seus gestos cabalísticos sobre a enferma, mandou que lhe dessem alimento, o que foi feito, e com espanto da família verificou que a doente conservara o alimento no estômago (o que não acontecia desde muito) e cessaram os delírios e a cefaléia da pobre criatura (...)”.
Um outro caso é contado, projetando no futuro o desaparecimento das tradições curativas dos descendentes de escravos.
“(...) Pelos lados da Tapera há uns trinta anos passados (sic), era de fama portada aquela redondeza e até pela cidade, um tal João Mina, que operava bruxaria de fazer arrepiar os cabelos... até as cobras atendiam a seu assobio encantado... Felizmente, essa arte ou devoção diabólica vai desaparecendo com o desaparecimento dos velhos africanos”.
O presidente da Federação, entidade fundada em 25 de julho de 1954, salienta que estão afiliadas 300 tendas espíritas e devem existir outras 100 que atuam isoladamente e que, embora não tenha um cálculo exato, o número de umbandistas é de cerca de 4 mil, para uma população de mais de 400 mil habitantes. Ele se refere à queda dos aficionados da umbanda como uma decorrência da evolução da sociedade como um todo:
“Com o deslocamento dos negros das áreas de plantio, as manifestações ocorrem nos bairros mais afastados. Só que hoje estamos concorrendo com a modernidade da televisão e com as chamadas igrejas eletrônicas. A Igreja Universal do Reino de Deus faz uma cópia mal feita de nossa ritualidade e, com hipocrisia, nega a reencarnação, a comunicação dos espíritos e ainda fala que somos os herdeiros do diabo”.
Por outro lado ele culpa a mídia por este estado de coisas. “A igreja eletrônica, católica ou protestante, sataniza o umbandismo e não dá nenhuma chance de resposta, o que é inconstitucional. Contraria as normas de liberdade religiosa no Brasil. Como somos uma religião de pessoas pobres não podemos comprar horários na televisão para falar de nossa fé. A mídia, por ocasião das festas de passagem do ano, faz cobertura das louvações à Iemanjá, fatura sobre nossa religiosidade, inclusive com a produção de novelas
18 e, depois, somos colocados mais um ano no esquecimento”.
E como a umbanda e outras manifestações afro-brasileiras vão resistir às mudanças que ocorrem à luz da pós-modernidade? O líder religioso diz que
“isso não vai acabar nunca. Pode diminuir como vem diminuindo. A questão religiosa não é uma coisa de fora para dentro. Ela corre nas veias com o sangue. É atavismo e está ligada, por isso, à nossa ancestralidade. Nesse sentido a fé jamais será vencida pelo poder econômico que permeia a mídia”.
Não há dúvida, portanto, que os atrativos da deusa colorida são muito mais importantes, enquanto forma comunicacional, do que a ligação do homem com seus mitos e ancestralidade. Na periferia, onde está cada vez mais rara a presença do batuque nas noites de heresia, não tem mais conjuntos jongueiros e a dança da Mana Chica adormece nos escaninhos da memória de alguns pesquisadores.



12 - Oração preservada pela senhora Tacilda Vilemen, da Paróquia de São Benedito. Ela conseguiu catalogar, até 1990, 129 orações e ladainhas (anexos) para diferentes fins, sendo a mais antiga datada de 1728, destinada à cura de pessoas enfermas.
13 - Idem ao anterior.
14 - Há controvérsias sobre a população negra atingida pela Lei Áurea. No Cyclo Áureo, Horácio de Souza cita que, em 1883, Campos tinha 15 mil escravos (pág. 223), mas apresenta as estatísticas de 1888, destacando que na Velha Província eram 268.831 negros (pág. 227). Por certo o levantamento deixou fora os forros, os beneficiados pela Lei do Ventre Livre e os clandestinos, já que os navios negreiros continuaram a chegar mesmo depois de terem sido proibidos pelo Império. Outra coisa curiosa é que, segundo o mesmo autor, a população em 1889 era de 106 mil habitantes (pág. 221). Já no Subsídios para a História de Campos dos Goytacazes, Júlio Feydit cita que no recenseamento de 1873 a população era de 19. 520 e deste total só 11.279 eram livres (pág. 482). Como a população em apenas 16 anos quintuplicou? A dedução é a de que havia muito mais escravos nos aceiros do que se pode imaginar.
15 - A palavra não existe no Novo Dicionário de Aurélio, nem com esta ou outra significação.
16 - Religião dos negros iorubas. Qualquer grande festa aos orixás (Grande Dicionário de Aurélio).
17 - Ponto banto da região de Cabinda, Angola (África).
18 - A TV Globo usou o tema em “Porto dos Milagres”, em 2001, reacendendo o interesse folclórico pela umbanda. Um dos personagens principais era filho de Iemanjá, a Rainha do Mar.

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