terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.15.2 – As Simpatias


Maria Jocélia de Souza, conhecida como “Maria Rezadeira”, nos ensina uma delas,

(...) acender as segunda-feira acender uma vela assim, do lado de fora no cantinho, pras Santas Almas benditas, e fazer o pedido que quer, as Santas Almas Benditas, e depois diante disso, a pessoa fazer oração pra Santo Antônio poder conseguir, Santo Antônio Pequenininho, pra dar o que a pessoa quer, iluminar os caminhos e ajudar a pessoa.

Por estar trabalhando no ramo, e por lidar com inúmeras pessoas que vez ou outra compram seus produtos para fazer uma simpatia, o comerciante Paulo Roberto Soares de Souza, chegou deu-nos duas receitas de simpatias, ei-las,

(...) a pessoa pega um Santo Antônio médio, né? Quem tem o furo embaixo, que eles falam, que tem uma abertura embaixo, uma cavidade, faz o pedido no papel, o que a pessoa quer, quer conquistar um amor, e coloca ali e pega uma fita verde, né? E amarra e dá três nós, e faz o pedido que a pessoa quer, aí guarda aquele Santo Antônio como se fosse um amuleto para ele se ela conseguir, se ela conseguir, ou ele conseguir. A pessoa que fez aquele trabalho, não pode saber nunca da existência daquele Santo Antônio guardado ali, entendeu? Para que possa prolongar mais o amor, não terminar aquela paixão deles, né?
(...) pegar um pirezinho (pires pequeno) virgem, botar um Santo Antônio em pé ali no pirezinho virgem, entendeu? E acender uma vela durante sete dias, todo dia acender uma, e fazer um pedido em oração, certo? Para que Santo Antônio possa trazer aquela pessoa que ele gosta.



Em sua tese de doutorado, Luiz Beltrão chegou a dedicar um capítulo inteiro para as videntes e para os volantes de propaganda, que com textos indagativos sobre os problemas humanos, como: desemprego, falta de dinheiro, problemas de saúde e de relacionamentos amorosos, convida a pessoa a procurar uma vidente ou também, uma rezadeira, que irá lhe ajudar a se afastar desses males. Em “Folkcomunicação: Teoria e Metodologia, pgs. 131-133, 135 e 137-138, Beltrão, nos conta que,


A tirar pelo número de pessoas e instituições que se dedicam ao mistério de desvendar o futuro e orientar o comportamento humano à luz de conhecimentos esotéricos, é imensa a clientela de astrólogos, cartomantes, necromantes, quiromantes, videntes de bolas de cristal, manipuladores de búzios, rezadeiras e benzedeiras, bem como de indivíduos dotados de qualidades mediúnicas. Esses portadores de dons divinatórios são considerados pelos crentes como intermediários entre o mortal comum e a divindade ou santo, “uma ponte de comunicação com o outro lado”, e estão aptos a revelar-lhes os mistérios do porvir, mediante o conhecimento do passado e do presente irrevelado, permitindo-lhes traçar planos para a obtenção de desejo material ou espiritual: cura, paz, fortuna, felicidade.
(...) A despeito dos obstáculos que se lhes antepõem, os videntes, como os bicheiros, proliferam no submundo dos mais necessitados, dos desiludidos, dos náufragos da fortuna, da saúde ou da paz interior ou doméstica.
Por intermédio dessas folhas avulsas impressas, os videntes difundem suas mensagens, cujo conteúdo inclui doses substanciais do misticismo ou da religiosidade popular e, ainda, da natural tendência do homem para o gozo das facilidades que a vida moderna proporciona em bem-estar e segurança. Assim, todos os textos apelam para tais crenças e aspirações, enfatizam as dificuldades da vida e asseguram a posse pelos seus agentes, de poderes que lhes foram conferidos por forças sobrenaturais, graças ao domínio de “ciências ocultas”, “ciências orientais”, “grafologia”, “comunhão de pensamento”, “espiritualismo”, “ciência do caráter”, “cosmobiologia”, “astrologia estatérica” e quejandas técnicas, que já lhes granjearam fama mundial...
(...) Nesta modalidade de volante, os problemas mais comuns aos possíveis clientes são enumerados no interrogativo, sem qualquer preocupação gramatical ou sintático, mas com a veemência de quem está seguro de dar lhes solução. Eis os mais freqüentes:
a) casos íntimos, incluindo amores frustrados, uniões ameaçadas, questões de família, abandono pelo ser amado (“Tens casos íntimos a resolver? Sois infeliz com vossa família? Necessitais... facilitar algum casamento difícil? Quereis fazer voltar a vossa companhia alguém que de vós tenha separado? Existe desarmonia em seu lar? Quereis saber de um ente distante?” “Os seus amores não são correspondidos?” Quanto vale a paz entre um casal?”);
c) fortuna, representada por bons negócios, êxito em demandas, oportunidade de emprego, lucros maiores e certos (“Amigo Leitor: Os seus negócios não correm bem? V. S. anda mal de vida?” “Há queda de lucros em sua lavoura, indústria ou comércio?” “Pretendes viajar para realizar algum negócio? Comprar ou vender e estás em dúvida?” “Tens... negócios embaraçados ou demandas?” “Quereis... alcançar bons empregos e prosperidades?”);
Além desses problemas “banais”, o leitor é convidado a consultar a vidente “sem compromisso”, mesmo que “fiques em dúvida do que aqui está escrito”, pois assim terás a oportunidade de desfrutar dos anais do espiritismo”. E não é só: “ficarás satisfeito com uma única entrevista” para “tratar de casos` que V. S. não encontre solução”: ela lhe indicará “a remoção de qualquer dificuldade da vida”, pois está apta a resolver “todos os casos ao alcance da ciência oriental”.
(...) Além das credenciais “científicas” exibidas, as videntes recorrem a outras, adequadas ao público da localidade em que procuram clientela: ora se identificam como espíritas, ou seja, adeptas qualificadas de religião oficialmente aceita por todos os setores da população brasileira, notadamente na versão Kardecista; ora se dizem ligadas ao candomblé e à umbanda; ora, como vimos, esclarecem que sua atividade não contraria qualquer seita religiosa.
(...) esses distribuidores de ilusões e esperanças que, como seus precursores dos tempos coloniais, os pajés indígenas e os ciganos de remota origem asiática, são misteriosos e andejos.
(...) Indo e vindo, espraiando-se como ondas do oceano sobre as areias, as videntes estão, como citamos, (...) em todos os confins deste Brasil, ele próprio sempre voltado para o futuro que os videntes descortinam esplendorosamente.

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