terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.6 - A Patente de Santo Antônio



Trazido de Portugal para o Brasil, a imagem do santo passou a ser venerada da mesma forma que na sua terra natal. Curiosamente, quando o povo mais se ressentia de uma derrota ou de estar em uma situação muito difícil lembrava de pedir a intercessão do santo, e este, prontamente os atendia.
No livro “Santo Antônio – vida, milagres, culto”, pgs. 144-146, Frei Basílio Röwer, nos conta a respeito de algumas dessas batalhas, cuja intercessão do santo salvou o povo brasileiro. Eis o seu relato:


1640 – Quando, em 1640, os ocupantes franceses e holandeses se aproximaram da ilha de Boipeba, ao sul da Bahia, nada tinham os moradores para se defender. Recorreram a S. Antônio, orago da matriz, fecharam-na e foram observando a princípio o movimento do desembarque, daí a pouco viram o contrário. Ficaram livres sem atirar uma só flecha. Voltando à matriz encontraram a imagem de bruço diante de Jesus crucificado, como pedindo proteção. A ele, portanto, atribuíram o feliz desfecho.
1708 – Na guerra chamada dos “Emboabas”, os paulistas eram sempre vencedores e não quiseram aceitar as condições que os portugueses ofereceram para se render. Estes então tentaram a última investida perto de São João Del-Rei. Na muralha de seu fortim colocaram a imagem de S. Antônio. Saindo na manhã do outro dia para dar combate aos paulistas, não encontraram a ninguém. Na imagem de S. Antônio descobriram uma bala engastada no cordão.
1710 – S. Antônio, cuja imagem esteve colocada na muralha do Convento, defendeu o Rio de Janeiro contra os franceses, o que lhe valeu a patente de Capitão de Infantaria.

A respeito da imagem que encontra-se na frente do Convento e um lugar de destaque, Frei Clarêncio Neotti, disse que,

Essa imagem que hoje o povo chama de Santo Antônio do Relento, na verdade já esteve, presidindo o altar-mor do nosso santuário, e é imagem histórica que acompanhou o Exército brasileiro na derrota aos franceses quando eles invadiram a Baía da Guanabara, e em compensação ele foi feito membro do Exército brasileiro e passou a receber soldo como um herói. Esse soldo foi pago a Santo Antônio até 1911, quando uma portaria do ministro, portaria que nunca foi encontrada apesar de todas as pesquisas, cancelou o soldo dele. Mas é uma imagem histórica nesse sentido e talvez a imagem mais antiga que nós temos no Rio de Janeiro conservada e ainda em veneração.

Frei Basílio Röwer, em seu livro ainda conta que,

“(...) nos seguintes Estados do Brasil S. Antônio tem patente de oficial do exército: Paraíba, Pernambuco, Bahia, Espírito Sant, Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás. Recebia antigamente também o soldo correspondente. Era uma esmola que entregavam geralmente aos Conventos Franciscanos para o culto do Santo, em agradecimento pela proteção que dispensava a suas armas”.
Em 1754, o Senado da Câmara da Vila de Igaraçu (Pernambuco) pretendeu até fazer S. Antônio vereador, com a propina de 27$000. O rei não consentiu, mas autorizou que se esse ao Convento Franciscano da localidade a dita propina (...)”.

Mas isso não é tudo, pois Renato Pacheco e Luiz Guilherme Santos Neves, ao escreverem o “Índice do Folclore Capixaba”, Gráfica Ita, Vitória, 1994, pg. 116, no item dedicado a Santo Antônio eles contam que,

“(...) É o padroeiro de centenas de igrejas brasileiras, tendo sido honrado com patentes militares, tais como soldado (como ocorreu no Espírito Santo), alferes, capitão e tenente-coronel, com soldo regularmente pago pelas câmaras municipais, e invocações a sua interferência em horas aflitivas. Nas procissões, saía portando espada, dragonas e condecorações, legítima herança portuguesa. (...)”.

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