terça-feira, 18 de setembro de 2007

3.5 – O que o homem perde, Santo Antônio encontra

Mas nem só de casamentos, vive Santo Antônio, ele também é conhecido por ajudar as pessoas a encontrar objetos perdidos. Nesse ponto, vale lembrar que no sul do país, o Negrinho do Pastoreio, figura lendária de um menino negro, também ajuda as pessoas a encontrar objetos perdidos.
Para a idosa, Durvalina Ribeiro Gama, 80 anos, Santo Antônio já lhe ajudou em algumas ocasiões, como no encontro com sua filha, e sobre os objetos que estavam sumidos: a chave da bicicleta e uma tesourinha, como ela conta:


“(...) Mas aconteceu comigo, eu tinha uma filha, ela se casou e foi morar fora daqui, com poucos dias de casada, ela sofreu um desastre de carro, e quebrou a cabeça, ela trabalhava na Secretaria de Educação, lá em Niterói. (...) E com esse desastre ela teve que parar de estudar, ela sofreu muitas operações na cabeça, nem sei porquê (?), então ela ficou muito doente, nós tivemos muito trabalho com ela, foi uma luta pra gente conseguir trazer para aqui, porque ela não queria vir embora lá de Niterói. (...) Mas, ela então depois veio morar aqui conosco, e ela costumava muito sair e ela quando saía, nós até sofremos muito com ela, muito mesmo. (...) Ela passou a beber, se embriagar, ela saía, levava dois, três dias, não sabia onde andava, as vezes eu passava a noite sem dormir, esperando por ela, quantas vezes, pela madrugada, alguém batia palmas eu chamava logo meu marido e a gente vinha ver, era alguém dando notícia dela, aí a gente ia pra rua pra poder trazê-la pra casa. Mas levamos assim 21 anos nesse sofrimento, ela tinha tempo que melhorava, tinha tempo que piorava, mas agora eu vou contar o milagre de Santo Antônio.
Foi um sábado à tarde, ela pela manhã saiu pra fazer uma comprinha pra mim, e não voltava, nunca mais que voltava. Daí até a minha irmã estava aqui em casa, minha irmã mais velha que morava em Niterói, (...) eu preciso (?) Dalila, eu vou sair pra ir ver a minha filha que se chamava Ana Maria. Eu saí com minha irmã procurando por ela, procurando. Antes as lojas já estavam fechando, e ela, eu vendo que ela não... tão fechando, estavam fechadas, porque foi um dia de sábado, e comércio aqui dia de sábado fecha meio-dia, uma hora (...). Então, quando eu vinha por uma rua, pela rua 21 (de Abril), eu me lembro muito bem, que eu olhei, e vi que ela vinha nessa mesma rua, mas bem na minha frente, aí eu corri, pra ver se alcançava, minha irmã ainda disse assim: “você parece uma mulher maluca, correndo pela rua, aqui na cidade”, eu disse: “ah minha filha! Por causa de uma filha a gente faz tudo”. Mas quando eu olhei ela já estava ainda muito distante, ela dobrou da Rua 21, dobrou pra Rua Barão de Cotegipe, eu disse: “ah! É agora, eu vou perdê-la!”, aí eu gritei: “Santo Antônio! Santo Antônio, me ajuda Santo Antônio!”, falei mesmo: “me ajuda Santo Antônio!”. O senhor sabe, quando eu cheguei na esquina, ela dobrou, foi Santo Antônio que fez ela parar, aí eu falei com ela, ela veio, nós viemos embora para casa. Então eu disse: ”isso foi um dos milagres que Santo Antônio me fez”.
“Outra vez, as crianças quando eram pequenas, apanharam a chave da bicicleta do meu marido, aí a chave sumiu eu disse: “gente, o quê que eu vou fazer, quando ele chegar com essa chave da bicicleta!”, aí eu fiquei: “Meu Jesus, o quê que eu faço?”, aí eu disse: “Santo Antônio, me faça essa chave (?)”. O senhor sabe, eu havia passado uma roupinha das crianças, e posto no armário, quando eu abri a porta do armário, a chave estava em cima da roupinha que eu havia passado. Eu disse: “Não se entende isso, não”, eu disse: “só foi Santo Antônio, que fez isso”.
”E a pouquinho, pouquinho tempo, aqui em casa até dão risada, porque (?), porque eu sou muito invocada com Santo Antônio, mas não sou não, porque ele tem me mostrado muita coisa. A poucos dias, eu tenho uma tesourinha de unha, e a tesourinha sumiu, pois eu procurei em todo lugar, no lugar até que eu costumo guardar, nada. Eu disse: “ah, o jeito vai ser...”, isso levou uns quinze dias, “o jeito vai ser eu comprar outra tesourinha”. Meu marido dizia: “trata de comprar outra tesoura porque não vai achar, não!”, pois o senhor sabe, na gaveta que eu costumo guardar, que eu já havia procurado, e ele me disse também, meu marido: “eu também já procurei nessa gaveta”. Quando eu abro a gaveta, a tesourinha estava assim (mostrando), quase tudo separado, assim na gaveta e a tesourinha ali no meio, como se alguém tivesse colocado ali. Eu disse: “só é obra de Santo Antônio, só é obra dele”. Porque na gaveta eu mexi, meu marido mexeu, eu não mexi uma vez só não, mexi na gavetinha muitas vezes, isso (?) na gaveta, a tesourinha, e quando eu trabalho de agulha é com ela que eu corto a linha, faço essas coisas assim, corto minhas unhas. Pois a tesourinha, que eu abri a gaveta, estava dentro da gaveta. Isso é coisa que aconteceu comigo. Eu posso falar que foi milagre dele porque foi mesmo, foi mesmo. E quando eu estou em muito desespero, e todos nós temos, né? Ah! É a quem eu recorro, é a ele e a Nossa Senhora.


Ao fazer seu depoimento a este pesquisador, o industrial Manoel Pereira da Silva, relatou que um antigo colega havia perdido uma agulha e como ele sabia do poder de Santo Antônio, fez a oração e conseguiu encontrar o objeto. Eis o seu relato:

Que curioso que, eu tinha uma devoção de falar tanto (...) pessoa perde alguma coisa, reza para Santo Antônio, aí eu perdi um objeto que não me lembro agora e rezei agradecendo, aí antes de perder eu tenho o costume de fazer isso, além de agradecer eu rezo uma coisa maior, varia mais, assim fora a promessa. Aí uma vez um colega meu, ele perdeu um objeto que era uma agulha, uma pequena agulha que ele fez um relógio dele de água. Ele pegou aquela agulha que segurava um ponteirinho que marcava o hidrômetro, e essa agulha ele demorou pra fazer que ela tinha uma medida certa, pra fazer dava uma dor de cabeça. Ele tinha muito cuidado com essa agulha, ele perdeu a agulha falei: “e agora rapaz, vou ter a maior aporrinhação pra achar essa agulha de volta”. Falei: “é Santo Antônio, que você acha”, mas falei brincando até, “mas como? Eu perdi essa agulha” tinha uma plantação de amendoim selvagem na chácara dele, tem as folhas pequenas que fosse pra matar cimorro (?), “caiu ali dentro como é que eu acho?”, falei: “mas aí tá o milagre, vai ali reza e procura”, aí ele levou na brincadeira, “não vou rezar, vou perder meu tempo, não (...) vou achar”, eu fiz de brincadeira com ele. Rezei uma Ave-Maria, abri a folha de amendoim selvagem e achei uma agulha perdida no meio do amendoim selvagem. Ele falou: “ó, nunca mais eu vou brincar com isso de devoção, de achar ou perder qualquer negócio de santo”, que isso pra mim foi milagre, achar isso aí.

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